Findo o carnaval, minha amiga estava prestes a engatar um contatinho como crush fixo e, vaidosa e animada com a possibilidade da nova relação, comprou lingeries novas, mudou o corte de cabelo, fez clareamento nos dentes. No auge de concretizar o namorico, veio a pandemia pra rogar praga e água fria nas suas pretensões amorosas.
Gisele (vamos apelidá-la assim), medrosa do cóccix até o pescoço, preteriu o crush emergente pra não correr riscos e isolou junto consigo o penteado novo e a alvura dos dentes. A questão pra ela agora é a volta ao mercado afetivo-sexual: a escolha será por parceiros da vida real ou os do mundo virtual, que estão enchendo de nudes seu direct e whatsapp?
Gi se apegou à ideia dos contatinhos virtuais e cheguei a sugerir que ela se divirta com aparelhinhos do sex shop enquanto sobe a temperatura do bate papo no privado. Cansada dos namorados voláteis da vida anterior ao coronavírus, ela me diz que essa é a vida que sempre quis e não pretende abrir mão desse tipo de relacionamento quando sair da quarentena.
Eu, igualmente solteiro, ainda não aderi completamente à nova ordem que a amiga festeja. Mas ando pensando no assunto pra quando o carnaval chegar (vai chegar?). Por ora, vou afagar a ilusão de que o mundo voltará à normalidade e tudo será como antes. Se eu perder o trem da nova história, embarco com todos os contatinhos e brinquedinhos no próximo voo: o voo afetivo-sexual que Gisele anda usufruindo sem pecado e sem juízo.